18 julho, 2006

Pequenas anotações sobre a dieta mediterrânea a partir da Provença, por Lara Leal

“O mar Mediterrâneo sempre foi um meio de intercâmbio cultural, e suas glórias culinárias são um resultado disso. Numa longa história de ocupações e conquistas, as idéias sobre comida cruzaram fronteiras nacionais e, quando eram boas, se firmaram.”
Paula Wolfert


Uma culinária extremamente básica, que cultua o paladar primário dos alimentos – é assim a culinária provençal, um dos pilares da famosa dieta mediterrânea. Azeite de oliva, alho, tomate, manjericão, azeitona, tomilho, lavanda, verbena, mel, queijo de cabra, vinho, sol, mar, peixes e conchas, frutas, maças à la Cézanne, grelha, picnic...



São princípios desta região do sul da França, captados com maestria pelas pinceladas dos pintores impressionistas, que brincaram com as possibilidades cromáticas do sol da região. Não apenas Paul Cézanne, mas também Van Gogh encantou-se com sua luminosidade. Chegamos a sentir o cheiro da lavanda quando olhamos uma pintura do mestre holandês.




Alain Ducasse a descreveu assim: "Se tivesse que lhe dar uma cor, seria o azul do mar; se tivesse de resumi-la num gosto, seria sutil e perfumado como o óleo de oliva extra-virgem; se tivesse que descrevê-la em uma palavra, seria essencial".

É preciso lembrar que a região é apenas uma via de entrada da chamada dieta mediterrânea, que engloba também outras localidades, como Itália, Espanha e Portugal, Turquia, Grécia, Egito, Israel, enfim, culturas que têm em comum o mar mediterrâneo, o azeite e o alho.

O que vem sendo valorizado nos últimos anos é justamente a simplicidade desta cozinha, que valoriza o conhecimento da terra, que reconhece a sabedoria do camponês. São receitas extremamente simples, que se valem da frescura e da qualidade dos alimentos - pilares da alimentação orgânica.

Esta salada de pepino é um exemplo disto. Além de extremamente simples de ser feita, é muitíssimo saborosa e uma excelente opção para àquele tão sonhado picnic ao sol.

Salada de Pepino com queijo

1 pepino pequeno
sal
½ xícara de queijo cottage ou ricota
½ xícara de queijo feta esmigalhado
¼ de xícara de cebola ralada e escorrida
¼ de xícara de suco de limão
¼ de xícara de azeite de oliva
4 azeitonas pretas bem tenras
pimenta-do-reino moída na hora
hortelã fresca

Modo de Fazer:
Após descascar o pepino, corte-o no sentido do comprimento, arranhe-o com os dentes do garfo e salpique sal. Deixe descansar por 30 minutos. Junte os queijos com a cebola, as azeitonas picadas, o suco de limão e o azeite. Misture bem e tempere com a pimenta. E uma pitadinha de sal.
Escorra e lave o pepino e depois pique-o em cubos. Junte ao queijo. Enfeite com a hirtelã fresca e deixe descansar por 30 minutos antes de servir.
Fica maravilhoso se comido com uma boa fatia de pão italiano.

Para saber mais sobre a culinária mediterrânea indico dois livros, o clássico Book of Mediterranean Food, de Elizabeth David, e Cozinha Mediterrânea, de Paula Wolfert. Outra delícia de se ler, principalmente para quem tem crianças por perto, é o livrinho de Thomas Scotto, Cançonetas doces que nem o mel, editado pela Actes Sud Junior em parceria com a L’Occitane. São pequenas perolazinhas literárias, que ao mesmo tempo que resgatam o tom da lírica trovadoresca provençal, seduz o jovem leitor para os inúmeros benefícios do mel.
Aí vai uma pequena amostra:



Mel com Água

Vovó botou
Na água do banho
Um cozimento
De alecrim,
Fez boiar
Em auréolas
Colheradas
De girassol,
E sem dizer nada acrescentou
Um conchada
De castanheira
Depois me lavou
Dos pés à cabeça
Com um xarope suave de acácia.
Ela imagina que
Eu fico mais cremoso.
Mas não seria melhor
Utilizar o mel em pérolas?



Ilustração de Laura Bour

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