09 setembro, 2007

Quando a viagem é mais do que uma experiência cognitiva ou BI L'À CÔTÉ



"A oitenta milhas de distância contra o vento noroeste, atinge-se a cidade de Eufêmia, onde os mercadores de sete nações convergem em todos os solstícios e equinócios. O barco que ali atraca com uma carga de gengibre e algodão zarpará com a estiva cheia de pistaches e sementes de papoula, e a caravana que acabou de descarregar sacas de noz-moscada e uvas passas agora enfeixa as albardas para o retorno com rolos de musselina dourada. Mas o que leva a subir os rios e atravessar os desertos para vir até aqui não é apenas o comércio das mesmas mercadorias que se encontram em todos os bazares dentro e fora do império do Grande Khan, espalhadas pelo chão nas mesmas esteiras amarelas, à sombra dos mesmos mosquiteiros, oferecidas com os mesmos descontos enganosos. Não é apenas para comprar e vender que se vem a Eufêmia, mas também porque à noite, ao redor das fogueiras em torno do mercado, sentados em sacos ou em barris ou deitados em montes de tapetes, para cada palavra que se diz – como “lobo”, “irmã”, “tesouro escondido”, “batalha”, “sarna”, “amantes” – os outros contam uma história de lobos, de irmãs, de tesouros, de sarna, de amantes, de batalhas. E sabem que na longa viagem de retorno, quando, para permanecerem acordados bambaleando no camelo ou no junco, puseram-se a pensar nas próprias recordações, o lobo terá se transformado num outro lobo, a irmã numa irmã diferente, a batalha em outras batalhas, ao retornar de Eufêmia, a cidade em que se troca de memória em todos os solstícios e equinócios."


Ítalo Calvino, As Cidades Invisíveis



Este post, apesar do atraso, é dedicado aos amigos que compartilharam comigo uma das noites mais agradáveis das últimas semanas. Na verdade, devo esta noite ao meu querido amigo Biagio, companheiro de aventuras gastronômicas. Vamos a ela:
Finalmente conheci a cozinha da badalada chef Danielle Dahoui. Após alguma hesitação na escolha do restaurante, não sabíamos de íamos ao Ruella ou ao À Côté, acabamos por optar pelo último, apenas por uma questão de proximidade. Acho que a escolha foi perfeita pois, além de delicioso, há muito não via uma decoração tão interessante. Mas a comida não ficou nem um pouquinho atrás. Éramos quatro. Escolhemos um delicioso vinho sul-africano, o Kadette, que deixou lembranças. E demos início à nossa viagem, compartilhando uma amuse-gueules muito especial - Tartines de Steak Tartar au Poivre com Mostarda Dijon e Alcaparras. Os pratos principais, foram quatro. Rosarinho foi de Quiche de espinafre e queijo de cabra feta com folhas; Alexandre foi de Peito de frango recheado com presunto cru e queijo ao molho Emmenthal com fettuccini na sálvia; Biagio foi de Magret de canard ao Cassis e Pimenta verde com arroz de maças ao açafrão; e eu fui de Pâtes, Penne com Camarão, Shimeji e aspargos ao molho de shoyu, saquê e gengibre. Pelo que me lembro, todos estavam sublimes. E para finalizar com chave de ouro (e transmutar esta experiência em calorosa memória gustativa), a magnífica Pavlova de amêndoas com sorvete de abacaxi, chantilly e coulis de framboesa.

Pena que noites como esta não acontecem sempre! Muito obrigada, Biagio.

P.S - A foto ilustrativa é um detalhe do Monastério de Santa Eufêmia, na Província de Palência.

Um comentário:

Beatriz Belliard disse...

eu nao conhecia esta chef, este jantar pelo que vejo deve ter sido 10 mesmo ! bjs