29 outubro, 2009

Desabafo de mãe


Embora não tenha aparecido muito por aqui, continuo frequentando quase que obsessivamente minha cozinha. Quem acompanha o blog sabe dos meus esforços em manter uma alimentação saudável aqui em casa - mas o que parece ser simples, não é. Por exemplo: meu filhote mais novo sofre de asma, o que significa que devido aos medicamentos, ele está acima do peso - uns 7 kilos mais ou menos. Principalmente por ele, que já foi alérgico a leite de vaca e, durante anos seguiu uma dieta bastante rígida, meu esforço é dobrado. Desde que foi "liberado" da dieta, se deslumbrou e hoje, a despeito das minhas tentativas, é quase impossível demovê-lo da idéia do consumo de leite e derivados... Assim, me esforço em mandar de lanche escolar bolinhos caseiros (cenoura, abobrinhas, banana), mas qual não é a minha decepção quando descubro que ele o troca por qualquer pacotinho de biscoito industrializado... E por aí vai - as festas infantis então, são quase o meu pesadelo - fico realmente chocada com a falta de consciência dos cardápios oferecidos. Mas, ofício de mãe é assim mesmo, diariamente precisamos nos esforçar e não podemos desistir jamais! O avanço desta semana foi a adoção (com consentimento de todos) da inclusão diária de arroz integral e a abolição do consumo de carne em três dias na semana - e, para isto, estou pesquisando receitas vegetarianas que possam agradar (e não apenas nutrir) meus filhotes ... E foi assim que descobri, por exemplo, o excelente blog da Rita Taborelli, Prato de Papel, nova colunista da revista Bons Fluidos, pelo que entendi, substituindo a Sônia Hirsh. Bom, deixa eu ir que está na hora do almoço... depois eu conto o menu...

14 outubro, 2009



"Dois homens chegam com tinas de berinjela. Compridas, esguias, casca bem lisa e violeta, com folhas e talos intactos. Acho que dizem alguma coisa como se precisar mais, é só dizer, senão nós traremos mais amanhã. Berinjelas compridas, esguias, casca bem lisa, recém-colhidas, rapidamente lavadas na pia batismal. São então levadas à mesa de trabalho, em que, depois de secas, o talo é retirado. Deixando-as inteiras mas fazendo cortes profundos em sua superfície, as viúvas rolam as berinjelas em uma caixa contendo uma mistura de farinha, farelo de pãp, são marinho e queijo pecorino ralado. Rolam, dão umas batidinhas e rolam de novo, pressionando a mistura seca para dentro dos cortes mais mínimos. Depois deitam aqueles bichos estranhos sobre bandejas forradas de papel e as levam até os fogões, onde outras viúvas aguardam, para mergulhá-las em óleo fervente, poucas de cada vez. Deixam-na flutuar, sem mexer, até que o miolo fique bem macio e a casca, crocante e de um bronzeado escuro. Então as retiram com uma escumadeira e as recolocam nas bandejas forradas de papel, esfregando grandes cristais de sal marinho entre as mãos sobre elas, enquanto ainda estão bem quentes. As berinjelas são então levadas para o salão de refeições, onde ficarei sabendo, mais tarde, que são servidas quase frias e ainda crocantes, com um molho de tomate cru temperado com manjerona. E vou saber que não são servidas ainda quentes, direto da panela, para que, ao esfriarem, seus sabores se misturem e se intensifiquem. Saberei, também, que tenho uma alarmante capacidade para me empanturrar com elas."



Um certo verão na Sicília. Uma históris de amor

Marlena de Blasi

Editora Objetiva, 2009.