30 maio, 2009

Mar Profundo


Ontem, procurando um livro em minha bagunçada estante, me deparei com este exemplar - o romance Mar Profundo, de Romesh Gunesekera. Na ocasião de minha leitura, lembro-me de ter ficado encantada com ele, lembro-me, até, de ter escrito uma resenha um pouco mais elaborada, tentando falar um pouco da importância de ler esta geração de autores surgidos na esteira dos estudos pós-coloniais. Mas depois de uma rápida busca no meu computador, me dei conta de que ela havia, definitivamente, desaparecido. Mas não tem problema, deixo aqui pelo menos um pequeno registro sobre o livro. Na sua orelha lemos:



“ Mar Profundo (...) é uma exótica história de crescimento e perda que se passa no exuberante paraíso do Sri Lanka (então Ceilão), pequena ilha ao sul da Índia. O narrador é Triton, que, aos onze anos, passa a trabalhar na casa do senhor Salgado (...) aprende a cuidar da casa e a lustrar a prataria. Mas seu destino é mais sutil, e ele logo começa a assar pão, bolo de amor com castanhas-de-caju frescas; a preparar panquecas de arroz com curry de peixe, bolinhos os mais variados, camarões em suflê de rum e peixe-papagaio cozido no vapor com sambol de pimenta, além de um sem número de outras delícias. (...) Conforme Triton conta a sua história, uma extraordinária voz emerge: ingênuo e sábio, temeroso e bravo, um menino tornando-se homem em um mundo à beira do caos, às vésperas das guerras étnicas que assolaram a ilha a partir da década de 1980”.


Aí vai uma nota história sobre o Sri Lanka: Lembram-se dos famosos versos de Camões “As armas e os barões assinalados / Que, da Ocidental praia Lusitana, / Por mares nunca de antes navegados / Passaram ainda além da Traprobana,” ? Pois é, a Traprobana era o Sri Lanka, ilha povoada desde o século X pelos árabes. Em 1517, os Portugueses lá fundaram a cidade de Colombo, e a ocuparam até o final do século XVIII quando, os franceses tomaram e a batizaram de Ceylon. Alguns anos depois, em 1802, ela foi oficialmente cedida à Grã-Bretanha, e passou a ser uma colônia real. Só em 1948 é que o Sri Lanka conseguiu sua independência.

29 maio, 2009

"Nata Cozida"


A Panna Cotta tradicional é uma sobremesa bastante simples da culinária italiana da região do Piemonte. Feita com creme de leite fresco, gelatina, açúcar e baunilha, ela se presta a uma infinidade de acompanhamentos, como caldas de frutas frescas e chocolate. Mas não é sempre que temos creme de leite fresco em casa, não é mesmo? Pelo menos aqui em casa não. No mercadinho mais próximo não vende, nem na padaria do bairro, por isto só compro quando vou ao Hortifrutti ou a algum mercado um pouco mais chiquezinho. Ocorre que ontem resolvi fazê-la com leite e ficou super interessante. Aromatizei o leite com folhinhas de alecrim fresco e baunilha e usei a proporção básica: duas xícaras de leite, ½ xícara de açúcar e um pacotinho de gelatina em pó sem sabor.

Panna Cotta de Alecrim com Morangos
2 porções

1 xícara de leite
Folhas de alecrim fresca
¼ de xícara de açúcar
1 ½ cc de gelatina em pó sem sabor
½ cc de extrato de baunilha

Para a calda:

Morangos frescos fatiados
1 colher de chá de manteiga
1 colher de sopa de açúcar
1 pinguinho de água

Separe ¼ do leite e despeje a gelatina dentro, para hidrata-la. Enquanto isto ferva o leite com o açúcar, o alecrim e a baunilha. Faça-o muito lentamente, em fogo bem baixinho, para que o leite fique bem aromatizado. Quando ferver, despeje um pouquinho do leite na gelatina. Dissolva bem e volte tudo à panela. Quando estiver tudo bem diluído, coe a misture e a deposite em duas pequenas forminhas. Leve ao freezer por 1 hora e então, deixe-as na geladeira até a hora de servir. Desenforme-as e espalhe a caldinha por cima. Para a calda, basta levar todos os ingredientes ao fogo, até atingir a consistência desejada.

28 maio, 2009

Vocês sabiam que existem caçadores de frutas? Pois é, eu também não sabia, até ter em mãos o livro de Adam Leith Gollner, Caçadores de frutas: uma história de natureza, aventura, comércio e obsessão.

Mas confesso que sempre desconfiei que esta seria uma ótima ocupação para um de meus filhotes. Na verdade, preciso ser ainda mais sincera, tenho certeza que sua verdadeira vocação é esta. Desde pequeno ele demonstra um raro talento para isto. Seu livro preferido na primeira infância foi o maravilhoso O Ratinho, o Morango Vermelho Maduro e o Grande Urso Esfomeado, de Audrey Wood & Don Wood.




E até hoje um de seus passatempos favoritos é “caçar” frutas no Jardim Botânico. Ano passado, em sua escola, foi instituído o dia da fruta – toda sexta-feira ele tinha que levar uma fruta para compartilhar o lanche com os amigos. Quase enlouqueci – não podia nunca ser uma simples banana, ou uma boa maça, ou uma bonita pêra. Tinha que ser algo diferente – toda semana era a mesma história. Resultado, virou fã incondicional de marmelos e limões sicilianos, o qual saboreia como laranja. E finalmente ontem me fez comprar uma pitaia, ou fruta-dragão – fruta que acho realmente linda, mas que custa uma verdadeira fortuna. Para mais informações sobre a pitaia, clique aqui.


Aí vai uma receita tentadora:

Granita de Pitaia

450 de polpa de pitaia em cubinhos
80 g de açúcar
½ suco de 1 limão
150 g de água

Leve tudo ao fogo e deixe ferver. Desligue, espere esfriar e leve ao freezer. Ao longo do congelamento, quebre a misture com o auxílio de um garfo. (Fica com a textura de uma raspadinha).

Fonte: blog Gourmandise

26 maio, 2009

Uma boa surpresa!!




Uma das coisas que adoro fazer é reler meus antigos livros de receitas. É sempre uma nova viagem. Receitas que nem me lembrava mais ou que na época em que vi, não me diziam nada. É que nossos gostos e sensibilidades estão sempre em mutação - o que é bom demais! Foi o caso desta inusitada sopa de Tortelloni com coco, retirada de um livro intitulado Massas, de Sally Mansfield, editado pela Manole. A verdade verdadeira é que eu não me lembrava, sequer, de ter lido esta receita algum dia, mas quando ontem bati os olhos nela, me encantei e resolvi prepará-la. E a prepararei muitas vezes ainda...

Sopa de tortelloni com coco

1 1/2 colher de sopa de azeite
325 g de tortelloni
1 cebola fatiada
2 alhos picados
200 ml de leite de coco
200 ml de leite
475 ml de caldo de legumes
1 maço de manjericão
125 g de queijo minas picadinho
sal e pimenta

Refogue as cebolas e o alho no azeite. Junte o leite de coco, o leite, o caldo e meio maço de manjericão. Deixe ferver e liquidifique. Volte à panela. Enquanto isto, prepare o tortelloni conforme instruções da embalagens. Quando estiverem prontos, escorra-os e junte-os à panela com o caldo de coco. Junte o manjericão restante e os pedacinhos do queijo. Está pronta.

25 maio, 2009

Deu no New York Times...


... a comida brasileira está de volta à mesa!!

23 maio, 2009

Sabe aquele curd de maracujá?


Virou recheio de pão de ló!

21 maio, 2009

Ando investindo em novos hábitos alimentares, utilizando legumes e verduras que não costumo comer com tanta freqüência. E o resultado tem sido maravilhoso. São descobertas cheias de sabores e promessas de novas receitas. E o melhor de tudo, o meu filhote mais chatinho para comer, que costuma implicar um pouco com alimentos que não tem o hábito de ver na mesa, comeu tudinho, sem reclamar. Inacreditável!!


Os dois eleitos da semana foram os rabanetes e o repolho roxo.



Os rabanetes sempre me intrigaram um pouco – nunca entendi direito como alguém pôde arriscar tanto pelo simples desejo de comer rabanetes. É claro que todos devem se lembrar da história da Rapunzel, pois é. Mas o mais inusitado foi descobrir que existem rabanófagos, ou seja, uma espécie de comedores compulsivos de rabanetes. Gil Vicente, um dramaturgo português do século XVI, fala “dessa gente sustentada a rabanetes”, e por aí vai...
O fato é que aqui em casa, agora, somos uma família rabanófaga.

Receita: Corte os rabanetes em quatro partes. Cozinhe-os em uma frigideira com um pingo d'água, sal, pimenta, 1 pedaçinho de manteiga e 1 colher de sopa de açúcar. Deixe a água evaporar - o que irá torná-los levemente caramelizados.


Quanto ao repolho roxo, a novidade ficou por conta do modo de preparo, pois costumo fazer saladas com ele. E desta vez o preparei na panela ...

Receita:
1 kg de repolho roxo
2 colheres de sopa de azeite
2 colheres de sopa de cebola picadinha
1/2 xícara de passas brancas sem sementes
2 colheres de sopa de açucar
2 colheres de sopa de vinagre balsâmico
1 1/2 colher de chá de sal
Refogue as cebolas no azeite. Acrescente o repolho cortado fininho, e o restante dos ingredientes. Tampe a frigideira, abaixe o fogo e deixe cozinhar por 15 minutos.

Aí vão algumas dicas literárias sobre o assunto:
Rabiscos e Rabanetes, de Sylvia Orthof
O Grande Rabanete, de Tatiana Belinky
Este não é rabanete, mas vale a pena dar uma olhada:

O Nabo Gigante, de Alexis Tolstoi

Editora Girafinha

20 maio, 2009

Ponto para Júlia!


"(...) Ora, desde que o enfarruscador ofício de temperar panelas se enfeitou com o nome de arte culinária, temos uma certa obrigação de cortesia para com ele. E concordemos que é uma arte pródiga e fértil. Cada dia surge um pratinho novo com mil composições extravagantes, que espantam as menagères pobres e deleitam os cozinheiros da raça! Dão-se nomes literários, designações delicadas, procuradas com esforço, para condizer com a raridade do acepipe. Os temperos banais, das velhas cozinhas burguesas, vão-se perdendo na sombra dos tempos. Falar em alhos, salsa, vinagre, cebola verde, hortelã ou coentro, arrepia a cabeluda epiderme dos mestres dos fogões atuais. Agora em todas as despensas devem brilhar rótulos estrangeiros de conservas assassinas, e alcaparras, trutas, manteiga dinamarquesa (o toucinho passou a ser ignominioso), vinho Madeira para adubo do filé, enfim tudo o que houver de mais apurado, cheiroso e... caro!
As exigências crescem, ameaçam-nos e, sem paradoxo, somos comidos pelo que comemos. Isto vem à propósito de uma exposição de arte culinária que se fez, há pouco tempo, em Paris. Imaginem como aquilo deve ser encantador e apetitoso! Quem já viu as vitrines das charcuteries, das crémeries, das confeitarias, etc., e que sabe com quanto mimo e elegância são expostos os queijos, os paios e os pastéis, entre bouquets de lilases e fofos caixões de papéis de seda bem combinados, crespos e leves como plumas, imagina que de novidades graciosas se juntarão no Palácio da Indústria. Naturalmente, cada expositor é um arquiteto e um artista na combinação das cores. Fazem-se castelos de biscoitos, torres engenhosas de chocolate, de creme, de morangos, onde tremulem, em cristalizações policromas, as gelatinas de frutas ou de aves, refletindo luzes entre lacinhos de fita e flores frescas, porque o francês tem a preocupação gentilíssima de deleitar sempre os olhos alheios. Abençoada mania!
O que eu invejo não são as trutas, nem os champignons, nem o seu foie-gras, porque tudo isso temos nós aqui e mais muitas coisas que eles lá desconhecem. O que eu invejo é aquela facilidade, aquela graça das exposições que se sucedem e se multiplicam e que não podem deixar de ser úteis, porque abrem a curiosidade e ensinam muito.A cozinha francesa tem-se intrometido em toda a parte. A Inglaterra opõe-lhe forte resistência com as suas batatas cozidas e presunto cru; mas a nossa, por exemplo, está muito modificada por ela. Entretanto, temos pratos característicos, só nossos e que eu teimo em achar gostosos. Infelizmente falta-lhes o chique, o lado onde se possa atar a tal fitinha ou colocar o buquê de violetas do inverno ou do muquet da primavera.
O feijão preto com o respectivo e lutuoso acompanhamento não se presta por certo para a coquetterie de um adorno mimoso, mas nem por isso deixa de ser da primeira linha. Depois temos os pratos baianos, o afamado vatapá e outros, quentes e lúbricos, e o churrasco do Rio Grande, e o cuscuz de São Paulo, e tantos que eu ignoro e que descobrem, demonstram, por assim dizer, as tendências, o temperamento do povo.
Um país como o Brasil tão vasto e variado não teria proporções mais curiosas para realizar uma exposição neste gênero? Só de frutas, que, tratando-se da mesa, tem todo o lugar, e de doces... imaginem: faríamos um figurão! geralmente caluniam-se as frutas brasileiras e parece-me tempo de lhes irmos dando a merecida importância. Não há nenhum brasileiro que conheça todas as frutas do seu país. O europeu desdenha-nos nesse sentido; esquece-se de que em muitos lugares do Paraná, Minas e Rio Grande, desenvolvem-se peras magníficas, damascos, cerejas, nozes, etc. E as frutas e as hortaliças indígenas? Inumeráveis!
O que falta à nossa gourmandise é poder agrupá-las, poder escolher, na mesma terra, estas ou aquelas, e isso só se poderá fazer se houver aqui, algum dia, como agora em Paris, quem dê importância à mesa, e procure, por meio de exposições, facilitar esse ramo de comércio, educar o povo, e dar-lhe um elemento novo de prazer e de saúde.


"A Arte Culinária", de Júlia Lopes de Almeida. Livro das donas e donzelas, Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1906.

19 maio, 2009

Convite


Desde a minha leitura do livro O Mundo é o que você come, de Barbara Kingsolver, muitas mudanças ocorreram na minha vida e muitos interessas se solidificaram, apontando uma nova direção na minha visão de mundo. Ao longo da minha leitura, me chamou especial atenção à questão que envolve a extinção de grande parte de grãos e sementes conhecidas por nós. Desde então tenho pesquisado bastante o assunto e me identificado cada vez mais com as propostas de preservação destes sabores ameaçados. No site Slow Food Brasil, encontramos uma lista dos alimentos brasileiros incluídos na Arca do Gosto. São eles: Pinhão, Arroz vermelho, Babaçu, Bergamota Montenegrina, Farinha de Batata Doce Krahô, Umbu, Palmito Juçara, Guaraná Nativo Sateré-Mawé, Feijão Canapu e Castanha de Baru. Mas a minha pesquisa vai um pouco mais longe e envolve, também, a maneira de lidar com estes (e outros) ingredientes. São receitas, modos de cuidar e de usufruir da alimentação que estão desaparecendo, se perdendo no tempo. E eu gostaria de resgatá-los. Tenho reunido, na medida do possível, receitas de meus antepassados – aqueles velhos cadernos de receitas, escritos à mão, que mesclavam o modo de fazer com uma espécie de economia doméstica. E minha vontade é reuni-los e edita-los novamente. Daí a idéia desta campanha-brincadeira. Estarei recebendo, até o dia 25 de junho, a contribuição de todos aqueles que gostariam de participar do projeto. Selecionarei 25 receitas (com histórias e ilustrações) e publicarei um e-book, que será disponibilizado on-line e enviado para todas as organizações voltadas para as questões de alimentação. Não preciso dizer, que todas as receitas incluídas no livro, receberão os devidos créditos. Na medida que forem surgindo novos alimentos, irei postando informações sobre o mesmo. Espero contar com a ajuda de todos vocês. Desde já obrigada!

Delícia da Semana

Há tempos que quero fazer esta maravilha: Curd de Maracujá, vista pela primeira vez no maravilhoso Il Cavoletto di bruxelles.



A receita é super simples e fácil de fazer. Basta bater juntamente 4 ovos, 160 g de açúcar e 250 g de polpa de maracujá e, continuar batendo por 8 minutos, sobre uma panela com água fervendo. Aos poucos a mistura vai ganhando corpo. Após este tempo, retirar do vapor e acrescentar 120 g g de manteiga. Bater até incorporá-la totalmente. Está pronto e só guardar e levar para gelar. Dura uma semana na geladeira e serve como base e acompanhamento para muitas outras delícias.

17 maio, 2009

Novidades Literárias

Novo lançamento: Banquetes Intermináveis. Os melhores textos da revista Gourmet. Editora, DBA.





Esta delícia de livro, devemos ao talento de Ruth Reichl e ao seu esforço em aliar, de forma definitava, as belas letras ao bom garfo. Os 40 textos selecionados por ela, ao longo dos sessenta anos de existência da Revista Gourmet, são todos pequenas (e grandes)pérolas - garantia de boa leitura e de muita inspiração. E para completar o presente, vem com uma apresentação da querida Nina Horta. Ou seja, tudo de bom!!!!
Para saborear:
"Madame era famosa pela truta, pelas pernas de rã e pelo camarão-de-água-doce. Já provei todas eles muitas vezes. Alguns rigoristas da etiquêtica gastronômica criticam o que ela denominava truites meunières porque o peixe estava sempre retorcido como truites au bleu. De certa feita, perguntei a Berthe a razão disso. Ela deu de ombros: "E daí? Truta morta há menos de um minuto fica se retorcendo em agonia na manteiga quente. Dá para achatá-la, é verdade. Mas mamãe prefere deixá-la tão confortável quanto possível". Não havia mais nada do que pudesse dizer."
M.F.K.Fisher, "Três estalagens suiças".

13 maio, 2009